Moradores do Morumbi fizeram um protesto no último dia 28 na Praça Vinicius de Moraes, próxima ao Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Vestidos com camisas brancas, segurando faixas com a frase “Basta de Violência” e fazendo um apitaço, os moradores pediam por mais segurança no bairro, em um movimento chamado SOS Morumbi.
“De um ano para cá, os casos de violência vêm aumentando muito. O que era simplesmente um roubo hoje virou tiros e agressão. E não podemos mais tolerar isso”, disse Ana Paula Freitas, uma das organizadoras do protesto. Segundo a organização do SOS Morumbi, o ato reuniu cerca de 3,5 mil moradores. A Polícia Militar contou a participação de 2,5 mil pessoas.
Logo depois da concentração dos participantes, os moradores fizeram uma pequena caminhada ao redor da praça e deram-se as mãos como se estivessem abraçando o local. O ato terminou com os moradores fazendo um minuto de silêncio e soltando balões brancos ao céu. “Estamos indignados com o que acontece em São Paulo e, particularmente, no Morumbi, onde não temos o direito de ir e vir. Há uma ausência do Estado, uma polícia que recebe um salário indigno. Temos que nos proteger cada vez mais, temos que ter segurança, escola particular, seguro-saúde particular. Cadê o Estado?”, reclamou o médico Rudolf Wechsler.
Os moradores acreditam que, além de uma política de segurança para toda a cidade, o governo deveria trabalhar para reduzir a desigualdade social. “O Morumbi está ilhado entre três favelas. A diferença social é muito grande. Tem que ter políticas de ajuda à saúde e à educação”, acrescentou a médica Mariangela Pinto da Fonseca Wechsler.
No protesto, os organizadores recolheram assinaturas para um abaixo-assinado pedindo mais policiamento, iluminação e a instalação de uma base fixa da polícia na comunidade de Paraisópolis, bairro carente vizinho do Morumbi. O abaixo-assinado deverá ser entregue até o próximo dia 5 ao governador do Estado, Geraldo Alckmin, também morador do bairro.
Moradores de outros bairros, como o Campo Limpo e Jardim da Saúde, aproveitaram o ato para protestar contra a violência. Rose Marie reclamou da falta de segurança no seu bairro. “Na porta do meu prédio, vários moradores já foram assaltados. Há dois meses, sofri um arrastão no posto de gasolina e não aguento mais essa situação”, disse a moradora do Jardim da Saúde.
A União dos Moradores de Paraisópolis se manifestou em seu site com um comunicado de desabafo em relação à motivação do SOS Morumbi. Assinado pelo presidente da entidade, Gilson Rodrigues, o comunicado diz que os moradores da comunidade sofrem tanto ou mais com a realidade criticada pelo movimento. “A solução para isso, no entanto, não passa por aumentar o muro que divide o Morumbi de Paraisópolis, mas pela continuação imediata das ações da Virada Social [projeto do governo de inserção social] e dos investimentos em educação, saúde, esporte e moradia. O que mais diferencia os jovens que moram em Paraisópolis daqueles que moram no Morumbi é a ausência de oportunidades iguais”, diz o manifesto.
A entidade pede a união de forças entre as comunidades do Morumbi e de Paraisópolis para solucionar o problema. “Ações pontuais, ditas emergenciais, sozinhas não resolverão os imensos desafios que temos que vencer. (...) Problemas sociais se resolvem com políticas sociais e mais presença do Poder Público”.
SOS Morumbi segue tendência global
Os moradores do Morumbi querem dar um basta na onda de violência que ronda o bairro. Além dos constantes assaltos, registrados diariamente, mansões e estabelecimentos comerciais tornaram-se alvo de quadrilhas que realizam os “arrastões”. Os ladrões rendem as pessoas, pegam tudo que conseguem carregar e fogem sem enfrentar resistência. A localização estratégica da região, com inúmeras rotas de fuga, torna muito difícil o patrulhamento policial.
Toda a indignação culminou na manhã de domingo, 28 de agosto, quando mais de 2.500 moradores se reuniram em um protesto na Praça Vinícius de Morais. O que todos queriam era muito simples: mais segurança. Esse é um direito da população e um dever do estado, que tem se mostrado ineficiente neste setor.
O movimento, batizado de SOS Morumbi, nome que destaca a urgência para a tomada de atitudes, segue a importante tendência das mobilizações populares que se espalham pelo globo. A população está cansada de não ser ouvida e, organizando através de novas mídias, sem um comando específico, está fazendo sua voz falar mais alto. Afinal, passou da hora de providências eficientes serem tomadas, em vez de medidas “emergenciais” e paliativas.
Enquanto é difícil combater e eliminar a violência, há diversos fatores associados a ela que, se melhorados, podem ajudar a contê-la. O trânsito, por exemplo, além de desgastar física e psicologicamente o morador, contribui para os assaltos. O motorista não tem para onde correr quando é abordado, por exemplo, no trajeto da Av. Giovanni Gronchi. Melhorar a qualidade das vias e criar um sistema eficiente que facilite a fluidez dos carros é primordial para diminuir a violência.
Outro ponto crucial, facilmente percebido à noite, diz respeito à iluminação pública. Ela já é naturalmente ruim em toda cidade, pois privilegia o caminho dos carros em vez dos pedestres. As diversas ruas mal iluminadas do bairro favorecem a ação dos ladrões, deixando-os mais seguros para agir contra pedestres, motoristas e até residências. Iluminar o espaço público é uma ação simples que coage atos contra o patrimônio público e privado.
Essas sugestões, entretanto, só serão plenamente eficientes se todos os distritos do Butantã se unirem na luta contra a violência. As áreas de Vila Sônia, Vital Brasil, Raposo Tavares e Rio Pequeno também precisam participar das mobilizações visando solucionar o problema da violência que, de maneira geral, é endêmico na região que compreende os cinco distritos da subprefeitura do Butantã.
O esforço conjunto dos moradores é o caminho mais eficiente para áreas urbanas mais seguras. Políticas públicas de longo prazo, que valorizem o desenvolvimento social e econômico das regiões, e medidas de infraestrutura que dificultem a ação dos ladrões são fundamentais para que as próximas gerações não precisem protestar pelo resgate de seu bairro.
José Cássio Castanho é jornalista e morador do Morumbi. jcassio@plugcom.net.br
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