Inaugurado em 1975, o InCor (Instituto do Coração) é resultado da fusão dos antigos serviços de cardiologia do Hospital das Clínicas da USP com a percepção do aumento da demanda por atendimento especializado e integrado. Mas a atual situação do InCor vem merecendo seguidas reportagens da mídia – e não é para menos. A instituição, que já foi apontada pela prestigiosa revista “Lancet” como um dos três maiores centros de cardiologia do mundo, convive hoje com um pronto-socorro funcionando bem acima de sua capacidade e com longas filas de espera para exames e cirurgias.
Atribui-se a crise atual à situação financeira da instituição. Administradores recentes responsabilizam as “gestões anteriores” pelo débito e pela situação atual, em que o InCor rola uma dívida de mais de R$ 120 milhões, que impede que o instituto passe por reformas e amplie sua hoje capacidade de atendimento.
Para manter a instituição, foi criada a Fundação Zerbini, e o InCor – dirigido pelo cardiologista Fúlvio Pileggi de 1991 até sua aposentadoria, em 1977 – ostentou alta qualidade no atendimento, na produção científica e pós-graduação com nota máxima da Capes/Ministério da Educação, resultado que nunca mais foi atingido.
Uma auditoria realizada pela Deloitte, a pedido do próprio Pileggi, mostrou que, à época de sua saída do InCor, havia em caixa cerca de R$ 60 milhões. Bastaram sete anos para que o caixa se transformasse num débito de R$ 240 milhões.
Segundo o médico oncologista e professor emérito da USP, Ricardo Brentani em artigo na Folha de S. Paulo, as obras de expansão do complexo hospitalar são apontadas como responsáveis pela dívida, “mas não se pode negar que houve também outros problemas de gestão”, diz.
E o que dizer então dos favorecimentos para políticos e poderosos de Brasília que fazem uso dos serviços de atendimento (exames e cirurgias) sem desembolsar um único tostão? Brentani afirma que o sucateamento do InCor é, sim, inaceitável. Mas é fundamental tomar precauções para que um novo influxo de recursos não se perca na vala comum das dívidas estratosféricas e da gestão incompetente das verbas públicas.
“O InCor precisa de uma gestão profissional e transparente, que dê conta de cada centavo investido e de cada agulha e seringa comprada e usada. Do contrário, o sonho da excelência corre o risco de se perder entre a manada de elefantes brancos emperrados que hoje, infelizmente, constitui a imensa maioria dos hospitais da rede pública”.
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