sexta-feira, 19 de agosto de 2011

Pinheiros - Urbanistas buscam bairro ideal nos próximos 50 anos

Em 2010, Pinheiros chegou aos seus 450 anos de fundação, iniciada no século 16 por meio da formação de um aldeamento indígena numa área entre o Rio Pinheiros e onde é hoje o Largo da Batata. Já em 2011, começa o caminho rumo aos 500 anos, e, pensando nisso, a Gazeta de Pinheiros - Grupo 1 de Jornais propôs a alguns urbanistas a difícil missão de visualizar o bairro nas próximas cinco décadas. O objetivo da iniciativa é tentar definir as condições ideais para que o bairro possa se tornar um meio mais humano e organizado para todos viverem.
Questões atuais como o crescimento do mercado imobiliário, intensificação do tráfego, os impactos da Operação Urbana Faria Lima, ocorrência de enchentes e manutenção de áreas verdes são apenas alguns fatores que poderão influenciar na qualidade de vida dos futuros moradores locais.
Entre os profissionais consultados para o desafio de pensar em Pinheiros nas próximas cinco décadas está o arquiteto e urbanista Nadir Curi, que além do conhecimento técnico se identifica e conhece as particularidades do bairro, onde mora há mais de 40 anos. Confira a seguir, sua entrevista à Gazeta de Pinheiros:
Gazeta de Pinheiros – Há quanto tempo mora e trabalha em Pinheiros?
Nadir Curi - Moro em Pinheiros desde 1968, há  43 anos.
Há 30 anos estou com escritório na Rua dos Pinheiros, junto ao meu sócio e amigo Celso Franco, com quem compartilho boa parte das minhas opiniões técnicas.
Pinheiros é um bairro que nos últimos 30 anos teve a sua paisagem alterada de maneira significativa. Assim, pensar num planejamento sobre os próximos 50 anos pode ser considerado “um exagero” para um dos bairros mais centralizados e densos da cidade? 
Pensar num de planejamento é um caminho  indispensável.  Há cinco décadas São Paulo se vangloriava de ser a cidade que mais crescia no mundo, porém, lamentavelmente cresceu errado. Ficou inerte diante dos problemas, e, por interesses individualistas, soluções como o metrô acabaram tendo sua construção defasada.
De que maneira a chegada de uma linha de metrô no centro do bairro pode influenciar o desenvolvimento local no futuro?
Como o sistema de metrô vem sendo implantado lentamente e com atraso de 60 anos, tem sido instrumento da especulação imobiliária, quando poderia ser referência à  organização  urbanística. Portanto, em cinco décadas, poderemos precisar decuplicar as estações no bairro, prevendo sua necessária verticalização urbanisticamente planejada.
Pinheiros é um bairro situado próximo à região central da cidade e “cortado” por importantes vias, que recebem veículos provenientes de outras regiões, que junto aos novos empreendimentos imobiliários agravam ainda mais o trânsito. Como lidar com essa situação?
Pinheiros será um centro cada vez mais importante para a Cidade. Há 30 anos as avenidas eram vias articuladoras dos espaços urbanos.
Mas, sem uma rede de transporte coletivo, elas tornaram-se sistemas viários para automóveis, perdendo suas funções originais.
Quais serão os possíveis efeitos que a Operação Urbana Faria Lima poderá gerar no bairro?
Entendo "Operações Urbanas" como recurso urbanístico e não como solução urbanística consistente. Na prática, resultou em ação pontual, um "acordo" entre o Estado e a iniciativa privada com pouca sustentação qualitativa. Exemplos: outorgas onerosas aplicadas para passagens em sentido errado sob a Faria Lima, palmeiras no canteiro central da avenida, resultando no árido Largo da Batata. "Operação" não resolve a doença.
Pinheiros é caracterizado por ter muitas praças e ruas arborizadas. No entanto, estes locais podem estar ameaçados pela expansão urbana?
 Pinheiros "usa", em grande parte, a paisagem dos "bairros-jardins" como uma qualidade urbana própria e referencial. Suas áreas carentes dessa paisagem também tornaram-se hoje objeto de rápida especulação à verticalização com a chegada do metrô. Na realidade, os bairros se destroem entre si.
Os "bairros-jardins" estão confinados: pagam altos IPTUS, não se sustentam em seus usos de habitação, poluídos e inseguros, hoje estão emoldurados como paisagem de seu entorno. Em cinco décadas deverão, a meu ver, ser corretamente verticalizados em "quadras metropolitanas".
O bairro é cortado pelos córregos Verde e das Corujas. Nos períodos de fortes chuvas, mesmo canalizados, eles “se manifestam” e juntos à impermeabilização proporcionam enchentes. Como evitá-las com um solo tão ocupado?
A solução é devolver aos córregos as terras lindeiras, que são necessariamente deles, para dar vazão ao volume d´água de sua bacia.
Que local do bairro mais lhe agrada?
Há  recantos  mais ambientados para morar, como a Praça do Pôr-do-Sol; outros para trabalhar, Faria Lima;  para admirar, Avenida Fonseca Rodrigues; para lazer, como o Parque Villa-Lobs o e fazer compra; Teodoro Sampaio. 
Mas não basta , Pinheiros como um todo deve ser "costurado" para tornar-se um bairro com urbanidade plena.
Se tivesse a oportunidade, que tipo de melhoria realizaria no bairro?
Se eu tivesse a disponibilidade desenvolveria um estudo amplo, com a necessária revisão do uso do solo, envolvendo as necessárias reestruturação das quadras e os diferentes usos que convivem no espaço.
Entrevista: Diego Gouvêa
Na próxima edição, Paulo Costa o urbanista e morador da região também comentará sua visão sobre Pinheiros nos próximos 50 anos.

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