Em 2010, Pinheiros chegou aos seus 450 anos de fundação, iniciada no século 16 por meio da formação de um aldeamento indígena numa área entre o Rio Pinheiros e onde é hoje o Largo da Batata. Já em 2011, começa o caminho rumo aos 500 anos, e, pensando nisso, a Gazeta de Pinheiros - Grupo 1 de Jornais propôs a alguns urbanistas a difícil missão de visualizar o bairro nas próximas cinco décadas. O objetivo da iniciativa é tentar definir as condições ideais para que o bairro possa se tornar um meio mais humano e organizado para todos viverem.
Questões atuais como o crescimento do mercado imobiliário, intensificação do tráfego, os impactos da Operação Urbana Faria Lima, ocorrência de enchentes e manutenção de áreas verdes são apenas alguns fatores que poderão influenciar na qualidade de vida dos futuros moradores locais.
Entre os profissionais consultados para o desafio de pensar em Pinheiros nas próximas cinco décadas está o arquiteto e urbanista Nadir Curi, que além do conhecimento técnico se identifica e conhece as particularidades do bairro, onde mora há mais de 40 anos. Confira a seguir, sua entrevista à Gazeta de Pinheiros:
Gazeta de Pinheiros – Há quanto tempo mora e trabalha em Pinheiros?
Nadir Curi - Moro em Pinheiros desde 1968, há 43 anos.
Há 30 anos estou com escritório na Rua dos Pinheiros, junto ao meu sócio e amigo Celso Franco, com quem compartilho boa parte das minhas opiniões técnicas.
Pinheiros é um bairro que nos últimos 30 anos teve a sua paisagem alterada de maneira significativa. Assim, pensar num planejamento sobre os próximos 50 anos pode ser considerado “um exagero” para um dos bairros mais centralizados e densos da cidade?
Pensar num de planejamento é um caminho indispensável. Há cinco décadas São Paulo se vangloriava de ser a cidade que mais crescia no mundo, porém, lamentavelmente cresceu errado. Ficou inerte diante dos problemas, e, por interesses individualistas, soluções como o metrô acabaram tendo sua construção defasada.De que maneira a chegada de uma linha de metrô no centro do bairro pode influenciar o desenvolvimento local no futuro?
Como o sistema de metrô vem sendo implantado lentamente e com atraso de 60 anos, tem sido instrumento da especulação imobiliária, quando poderia ser referência à organização urbanística. Portanto, em cinco décadas, poderemos precisar decuplicar as estações no bairro, prevendo sua necessária verticalização urbanisticamente planejada.
Pinheiros é um bairro situado próximo à região central da cidade e “cortado” por importantes vias, que recebem veículos provenientes de outras regiões, que junto aos novos empreendimentos imobiliários agravam ainda mais o trânsito. Como lidar com essa situação?
Pinheiros será um centro cada vez mais importante para a Cidade. Há 30 anos as avenidas eram vias articuladoras dos espaços urbanos.
Pinheiros será um centro cada vez mais importante para a Cidade. Há 30 anos as avenidas eram vias articuladoras dos espaços urbanos.
Mas, sem uma rede de transporte coletivo, elas tornaram-se sistemas viários para automóveis, perdendo suas funções originais.
Quais serão os possíveis efeitos que a Operação Urbana Faria Lima poderá gerar no bairro?
Entendo "Operações Urbanas" como recurso urbanístico e não como solução urbanística consistente. Na prática, resultou em ação pontual, um "acordo" entre o Estado e a iniciativa privada com pouca sustentação qualitativa. Exemplos: outorgas onerosas aplicadas para passagens em sentido errado sob a Faria Lima, palmeiras no canteiro central da avenida, resultando no árido Largo da Batata. "Operação" não resolve a doença.
Entendo "Operações Urbanas" como recurso urbanístico e não como solução urbanística consistente. Na prática, resultou em ação pontual, um "acordo" entre o Estado e a iniciativa privada com pouca sustentação qualitativa. Exemplos: outorgas onerosas aplicadas para passagens em sentido errado sob a Faria Lima, palmeiras no canteiro central da avenida, resultando no árido Largo da Batata. "Operação" não resolve a doença.
Pinheiros é caracterizado por ter muitas praças e ruas arborizadas. No entanto, estes locais podem estar ameaçados pela expansão urbana?
Pinheiros "usa", em grande parte, a paisagem dos "bairros-jardins" como uma qualidade urbana própria e referencial. Suas áreas carentes dessa paisagem também tornaram-se hoje objeto de rápida especulação à verticalização com a chegada do metrô. Na realidade, os bairros se destroem entre si.
Os "bairros-jardins" estão confinados: pagam altos IPTUS, não se sustentam em seus usos de habitação, poluídos e inseguros, hoje estão emoldurados como paisagem de seu entorno. Em cinco décadas deverão, a meu ver, ser corretamente verticalizados em "quadras metropolitanas".
O bairro é cortado pelos córregos Verde e das Corujas. Nos períodos de fortes chuvas, mesmo canalizados, eles “se manifestam” e juntos à impermeabilização proporcionam enchentes. Como evitá-las com um solo tão ocupado?
A solução é devolver aos córregos as terras lindeiras, que são necessariamente deles, para dar vazão ao volume d´água de sua bacia.
Que local do bairro mais lhe agrada?
Há recantos mais ambientados para morar, como a Praça do Pôr-do-Sol; outros para trabalhar, Faria Lima; para admirar, Avenida Fonseca Rodrigues; para lazer, como o Parque Villa-Lobs o e fazer compra; Teodoro Sampaio.
Mas não basta , Pinheiros como um todo deve ser "costurado" para tornar-se um bairro com urbanidade plena.
Se tivesse a oportunidade, que tipo de melhoria realizaria no bairro?
Se eu tivesse a disponibilidade desenvolveria um estudo amplo, com a necessária revisão do uso do solo, envolvendo as necessárias reestruturação das quadras e os diferentes usos que convivem no espaço.
Entrevista: Diego Gouvêa
Na próxima edição, Paulo Costa o urbanista e morador da região também comentará sua visão sobre Pinheiros nos próximos 50 anos.
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