sexta-feira, 26 de agosto de 2011

No meu tempo era assim

Qualquer pessoa que passou dos quarenta anos sabe disso.  Como quem está muito acima dessa idade, sou obrigado a começar o texto falando que, no meu tempo, todos nós, adolescentes começávamos a trabalhar aos doze, treze anos de idade. Isso era rotina, e todos tinham a sua “carteira de menor”, que registrava o inicio da carreira profissional dos trabalhadores.
Com a criação do ECA - Estatuto da Criança e do Adolescente, o jovem fica impedido de trabalhar, e isso virou justificativa para o que temos hoje. O jovem pratica delitos, e é protegido. O jovem não trabalha, e culpa-se o ECA. O poder público finge que protege, o jovem finge que é protegido, a família finge que está tudo bem, e cresce a bolha da mentira.
No mercado de trabalho não é novidade para ninguém que, após os quarenta anos, muitos trabalhadores são banidos, considerados “velhos”. Ou se adaptam aos novos métodos, fazem cursos de reciclagem profissional, ou caem no desemprego. E, como muita gente nessa idade está há muito tempo longe dos bancos escolares, a situação fica ainda mais complicada.
Por outro lado também sabemos que, se todos os jovens ora protegidos pelo ECA pleiteassem uma vaga no mercado de trabalho, as vagas para o pessoal acima dos quarenta anos seria ainda menores.
Não bastasse a falta de oportunidades, a falta de pessoal técnico devidamente especializado, ainda enfrentamos a competição de produtos chineses, muitos deles fabricados em regime de quase escravidão. Produtos muitas vezes considerados descartáveis, que chegam a preços irrisórios, gravando um quadro que nos coloca em uma única posição, a de um país prestes a sofrer contínuas derrotas no mercado internacional.
Apesar desse quadro, vamos sendo iludidos, ou seja, fala-se uma coisa, e pratica-se outra. Justifica-se o fato do jovem não poder trabalhar, culpando-se o ECA. Mas, na verdade, o que sabemos é que não dispomos de vagas para esses jovens, e, de falácia em falácia, vamos nos enganando, ou nos deixando a enganar.
Vitor Sapienza é deputado estadual (PPS), presidente da Comissão de Ciência, Tecnologia e Informação, ex-presidente da Assembleia Legislativa de São Paulo, economista e agente fiscal de rendas aposentado.  Siga: www.twitter.com/vitorsapienza

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