Os níveis crescentes nas medições de poluição na Capital devem ser encarados como sinal de alerta. Em 2010, o número de vezes em que a qualidade do ar ficou imprópria na Região Metropolitana de São Paulo aumentou 76%, na comparação com 2008.
Em 2011, os índices de poluição do ar registrados na Grande São Paulo são os piores dos últimos oito anos, mostra levantamento feito pela Folha de S. Paulo com base em dados da Cetesb, a agência ambiental paulista.
O ozônio, dizem os técnicos, é o grande vilão que emporcalha o ar. Mas a culpa também é da imensa frota de veículos, que, só na Capital, é de 7,18 milhões.
Só o ozônio, em 2011, passou do limite em 96 dias, contra 77 em 2003. É o pior índice desse poluente desde 2001.
As estações de medição da qualidade do ar indicaram que os níveis de poluição para ozônio estiveram acima do padrão aceitável 257 vezes – sendo que em 54 delas chegou-se ao estado de atenção. Este poluente é chamado de secundário e se forma a partir das reações entre óxidos de nitrogênio e compostos orgânicos voláteis, na presença de luz solar. Por sua formação estar relacionada a outros compostos e depender muito das condições meteorológicas, seu controle é mais difícil. Dias bonitos, com muito sol e com céu aberto claro, são os piores para ozônio.
Aumento da frota
Na opinião do médico Paulo Saldiva, do Laboratório de Poluição Atmosférica da USP, a piora da qualidade do ar era esperada, já que não param de entrar novos carros nas ruas.
Apesar de a inspeção veicular – que tem como objetivo ajudar a controlar a poluição - ter começado em 2008, foi só no ano passado que ela se tornou obrigatória para todos os veículos da Capital. Enquanto isso, no mesmo período a frota de veículos aumentou na Capital e no Estado. Em novembro de 2008 havia 6,3 milhões de veículos na Capital. Em novembro do ano passado, a frota era de 6,9 milhões (aumento de 9,5%). No Estado, o número de veículos passou de 18,8 milhões para 21,4 milhões – crescimento de 13,8%.
“O aumento das emissões das substâncias precursoras está relacionado com o crescimento tanto da frota quanto do trânsito na Grande São Paulo”, explica Paulo Saldiva, médico da USP especialista em poluição atmosférica.
Com muita frota e muito trânsito, completa Paulo Artaxo, professor do Instituto de Física da USP, fica difícil controlar a poluição por ozônio.
“Isso é resultado de muitos anos sem a inspeção obrigatória e, claro, do enorme atraso nos transportes públicos.”
A gerente de qualidade do ar da Cetesb, Maria Helena Martins, discorda que exista uma tendência de alta na poluição por ozônio.
“As condições meteorológicas são fundamentais para explicar o comportamento do ozônio”, diz. Para ela, a quantidade do poluente está estabilizada em níveis inadequados.
“A receita de todos é conhecida. Além de diminuir a dependência do carro, é preciso um controle rígido das fontes de poluição”.
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