O fim das sacolas plásticas nos supermercados continua gerando polêmica, pois parte do consumidor ainda não conseguiu se adaptar à mudança.
Em vigor desde 25 de janeiro, a restrição das sacolinhas plásticas nos supermercados mudou a rotina do consumidor. Mesmo com o objetivo de preservar o meio ambiente e ter o apoio de grande parte dos paulistanos (57% de aprovação, segundo pesquisa Datafolha), a medida ainda gera queixas.
As principais reclamações se referem à dificuldade no transporte dos produtos após o pagamento no caixa, já que sem as sacolinhas as compras agora precisam ser mais bem planejadas. “Antes de ir para casa, passo no supermercado praticamente todo o dia depois de fazer cooper pela manhã na Avenida Sumaré. Agora serei obrigado a fazer minhas compras num outro horário”, afirma o engenheiro Manuel Távora.
Josefa dos Santos |
Quem reclama também é a costureira Josefa dos Santos Nascimento. “Trabalho em Pinheiros, mas moro em Taboão da Serra. Quando for dia de pagamento não sei como farei para levar as compras até minha casa”, desabafa ela, segurando uma bandeja de presunto fatiado em um saco fino e transparente, utilizado para embalar frutas e verduras.
Aparecida Colella |
Por outro lado, há quem já tenha se adaptado à mudança na rotina de ir ao mercado. “Eu usava as sacolinhas, mas creio que com o passar do tempo a maioria das pessoas deve se acostumar”, afirma o designer Júlio Mariutti com duas sacolas retornáveis em cada mão.
A professora aposentada Maria Aparecida Colella também diz que a restrição não atrapalhou sua rotina. “Fazer as compras nos supermercados hoje é como ir à feira, não mudou nada para mim”. Porém, o marido ainda recorre ao plástico. “Ele sempre carrega uma sacolinha no bolso, pois se precisar de algo no mercado antes de voltar para casa, terá onde carregar”, conta Aparecida. Para entender
A retirada das sacolinhas plásticas dos caixas foi determinada por meio de um acordo entre o governo do Estado e Associação Paulistas de Supermercados (Apas) no ano passado, visando incentivar o consumidor a optar por alternativas menos nocivas ao meio ambiente.
De acordo com estudos de institutos de pesquisa brasileiros e também do exterior, as sacolas plásticas podem levar de 100 a 400 anos para se decomporem, sendo que o tempo do processo depende da composição química do material utilizado na fabricação.
Como alternativa aos clientes, os supermercados passaram então a vender os modelos biodegradáveis produzidos com base no amido de milho, por R$ 0,19. As sacolas retornáveis também foram uma das opções, com preços a partir de R$ 1,99.
No entanto, devido a inúmeras queixas do consumidor, Ministério Público Estadual (MPE) e Fundação de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon) firmaram um Termo de Ajustamento de Conduta (TAC) com o governo e a Apas, especificando um período de dois meses para que os estabelecimentos passem a fornecer embalagens gratuitas aos clientes, como sacolas biodegradáveis, caixas de papelão e até as sacolinhas de plástica. A alteração no acordo também define que os funcionários dos caixas informem o consumidor sobre as novas regras antes de registrar as compras.
No caso das sacolas retornáveis, o TAC determina R$ 0,59 como preço máximo a ser pago pelos clientes durante seis meses. Após esse período, cada rede de supermercado poderá definir o valor que considerar justo. Em 15 de março, Dia do Consumidor, os estabelecimentos serão obrigados a oferecer modelos retornáveis como brindes aos clientes.
Mudança insuficiente
“O MPE e o Procon foram tolerantes demais com o poder público e os supermercados. A distribuição gratuita de outras embalagens deveria ser permanente e não se limitar a apenas 60 dias”, afirma o coordenador do Comitê de Política Urbana da Distrital Pinheiros da Associação Comercial de São Paulo, o advogado Fabrício Cobra.
Segundo ele, o fornecimento sem custos para os clientes destacaria o objetivo sustentável da medida. “Acabar com as sacolas de plástico sem onerar o consumidor seria uma maneira até de o setor privado demonstrar um maior comprometimento com a causa da sustentabilidade, facilitando também a conscientização de todos sobre a importância da iniciativa”.
Oportunidade para repensar
Apesar de ser a favor da retirada das sacolinhas dos caixas, a empresária Madalena Buzzo, membro do Cades (Conselho Regional de Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Cultura de Paz) de Pinheiros também discorda dos preços cobrados pelos modelos retornáveis nos supermercados. “Embalagens pequenas, que não comportam muitos itens são vendidas por valores absurdos, isso precisa mudar”.
No que se refere aos benefícios ambientais, Madalena afirma que o banimento das sacolinhas vai além de se reduzir a produção de plástico em execesso. “O momento é uma oportunidade para revermos nossa condição de compra”, afirma, lembrando que há alguns membros com posições opostas no conselho.
Segundo ela, a restrição evita extravagâncias. “A medida é válida, pois era comum ver nos caixas pessoas que, por exemplo, pegavam uma sacolinha para colocar apenas um pacote de bolachas”. Madalena alega também que com a mudança também haverá menos desperdício doméstico, pois será preciso planejar melhor as compras.“Quem tem uma faixa de renda baixa, na maioria dos casos, consome quase tudo o que compra, reduzindo a geração de lixo e evitando o estrago de alimentos”.
Diego Gouvêa
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