Apesar de proporcionar um benefício significativo ao desenvolvimento da zona Oeste, a inauguração da Estação Pinheiros do Metrô, realizada em 16 de maio, ainda remete ao trágico acidente do dia 12 de janeiro de 2007, quando sete pessoas perderam a vida na tarde de uma sexta-feira. A lembrança do episódio talvez venha a ser esquecida por alguns paulistanos que utilizarão diariamente a estação, sendo tragada aos poucos pelo cotidiano. Mas, dificilmente sairá da memória dos que acompanharam de maneira mais próxima o acontecimento. Para mostrar as repercussões geradas até hoje pela tragédia, a Gazeta de Pinheiros - Grupo 1 de Jornais contatou alguns dos personagens afetados pelo acidente, que, após seis anos, ainda não foi esquecido por eles. Nesta edição, a equipe do 4º Grupamento de Bombeiros detalha como foi o trabalho de resgate das vítimas no canteiro de obras da Estação Pinheiros.
Chamada incomum
No final da manhã do dia 12 de janeiro de 2007, a equipe do 4º Grupamento dos Bombeiros, região do Butantã, já havia encerrado todos os seus primeiros procedimentos de rotina, como vistoria de equipamentos e exercícios físicos. Por volta das 15h30, após o almoço, uma chamada de emergência pouco comum chegava à unidade da qual a tenente Priscila Mayume Oyama fazia parte na época. Todas as viaturas foram acionadas. “Era meu horário de folga, mas como fui informada de que algo ‘grande’ havia acontecido, me apresentei à equipe de resgate” conta ela.
Alguns minutos depois, próximo do 4º Grupamento, o sargento Osvaldo Marx Vaz, que realizava uma poda de árvore numa rua do Butantã, recebeu ordem para deixar o serviço e se apresentar no bairro de Pinheiros, para onde Priscila também se encaminhava. Só quando chegaram no local, puderam constatar a gravidade da ocorrência. “Sabíamos apenas que havia acontecido um acidente no canteiro de obras do Metrô, mas não naquela proporção”, conta Vaz.
Na área onde a Estação Pinheiros do Metrô era construída, uma cratera com 80 metros de diâmetro se abriu devido a um deslizamento de terra, provocado por rachaduras no teto de um dos túneis da futura Linha 4 - Amarela. O isolamento do local foi a primeira medida tomada pela equipe de resgate antes de iniciar a procura das vítimas, praticamente confirmadas com a notícia do desaparecimento de uma lotação que tinha a Rua Capri no itinerário, via situada no ponto do acidente. “O que mais nos preocupava na operação era o risco do solo ceder a qualquer instante e da grua utilizada nas obras tombar”, lembra Priscila. O guindaste tinha 120 metros de altura e 40 toneladas e ficava no centro do terreno. “Quando cheguei no canteiro de obras, pouco depois do desmoronamento, ainda observei a grua em movimento, com um operário descendo do topo da estrutura”, afirma Vaz.
Cavando com as mãos
O resgate consistia em explorar a área do acidente com o auxílio de cães farejadores. “Utilizávamos pás e até as mãos para retirar a terra, antes das máquinas escavadeiras chegarem. Foram dias de trabalhos, dormíamos pouco”, lembra a tenente. A primeira vítima encontrada foi a aposentada Abigail Rossi de Azevedo, 75 anos, que vinha de uma consulta médica na Lapa e passava pela Rua Capri para embarcar na Linha 9 - Esmeralda da CPTM, ela encontraria o marido na Estação Santo Amaro.
A operação se dividia em duas frentes na direção do túnel, uma executando escavações na horizontal e a outra, na vertical do terreno. Vaz também participou da retirada do motorista de um caminhão utilizado nas obras, Francisco Sabino Torres, que havia saído do terreno antes do deslizamento. Tentou voltar para pegar sua carteira de habilitação no interior do veículo, mas, o solo cedeu.
O sargento se recorda também quando a lotação foi encontrada. “Ouvíamos buzinas enquanto escavávamos, dando a impressão de que poderia haver alguém pedindo socorro. No entanto, o som era emitido por causa da pressão da terra sobre o automóvel. O mais frustrante em operações de desabamento é a pouca perspectiva de se encontrar sobreviventes”, diz ele, que já participou de operações realizadas em áreas de risco nas favelas da Capital.
Lições e reflexão
No que se refere ao aprendizado profissional, o desmoronamento do canteiro de obras do Metrô proporcionou aos dois bombeiros experiência para atuar em outras ocorrências mais graves. No caso de Priscila, o acidente do Airbus A320 da TAM, em 2007, e no de Vaz, as enchentes no estado de Santa Catarina, no ano seguinte.
Porém, para eles, a operação no canteiro de obras da Estação Pinheiros foi a mais complexa. “Apesar da frieza que mantínhamos durante as escavações, era inevitável o receio de que aquele lugar viesse abaixo novamente, ficávamos preocupados com a segurança dos nossos colegas”, lembra o sargento, ao lado do cabo Sérgio Ricardo de Carvalho, que também participou do resgate. Para Priscila, trabalhar no local a fez refletir. “Quando ocorre um desastre de grande magnitude como o do Metrô em Pinheiros, percebemos como é importante valorizar pessoas e momentos simples da vida, que na maioria das vezes passam despercebidos por nós em meio à correria do cotidiano”.
Diego Gouvêa
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