Sem muito alarde, a elite de São Paulo tem feito valer sua vontade ante projetos que podem alterar o cotidiano de seu bairro. Em geral, as estratégias vão de reuniões de pequenos e influentes grupos à contratação de advogados e consultores.
Em Higienópolis, a área mais valorizada da região central, um dos temores dos 3.500 signatários era que a estação, que seria instalada na Avenida Angélica, atraísse camelôs e aumentasse o número de “ocorrências indesejáveis”. Só que o pleito ganhou ares de luta de classes com a adição de uma expressão, “gente diferenciada”. Um protesto bem-humorado, chamado de “Churrasco da Gente Diferenciada”, conquistou 55 mil adeptos no Facebook e levou cerca de 600 pessoas às ruas do bairro. Até a semana passada, o governo afirmava que o projeto da estação seria deslocado para a Rua Sergipe.
No Morumbi, em junho do ano passado um boato que se alastrava havia alguns meses pelos arredores da Avenida Jorge João Saad foi confirmado. Um monotrilho – trem que circula por um viaduto de concreto – passaria pela região, o que segundo a companhia do Metrô, a obra garantiria a qualidade ambiental e melhoraria o trânsito na região.
O receio motivou uma mobilização. Parte dos moradores definiu uma associação que já existia, a Saviah (Sociedade Amigos da Vila Inah), como representante legal do grupo e “partiu para a luta”. Com base em informações de especialista em trânsito de que havia uma série de pontos falhos na proposta, o grupo fez uma representação ao Ministério Público, que resultou numa ação civil pública. A pedido da promotoria, em dezembro, a Justiça barrou o andamento do projeto. O Metrô, porém, não desistiu da obra. Afirma que a licitação está em fase final e que recorre da decisão na Justiça. No Real Parque, área próxima do Morumbi, moradores de 60 apartamentos de alto padrão convivem há mais de dez anos com uma favela que tem cerca de 4.000 habitantes. Em maio do ano passado, foi apresentado a eles um projeto de reurbanização da favela Peal Parque e dize, ter concordado com as propostas. O que não estava combinado era a aquisição de dois novos terrenos fora do perímetro da comunidade para a construção de conjuntos habitacionais. Preocupados com o aumento da favela, eles tentaram barrar a obra via Ministério Público, mas não foram atendidos. Hoje, eles reivindicam um posto policial e um estacionamento para o conjunto habitacional.
No Jardim das Bandeiras, que fica entre a Vila Madalena, o Jardim América e o Sumaré, moradores se uniram para protestar contra duas questões: o projeto de um piscinão na Praça General Oliveira Alves e a presença de skatistas em outra praça, a Horácio Sabino. Por quase oito anos, a associação conseguiu barrar a obra do piscinão, mas, de acordo com a Secretaria Municipal de Infraestrutura Urbana e Obras, a prefeitura aguarda apenas a emissão da licença ambiental, que deverá sair nos próximos dias para retomar o projeto. Quanto aos skatistas, a associação afirma que moradores tiveram suas casas pichadas e vidros quebrados porque reclamaram do barulho. Fizeram a queixa para a Subprefeitura de Pinheiros e, em meados de 2007, a ladeira amanheceu com paralelepípedos.
Bairros como Casa Verde, Jardim Anália Franco, entre outros, também têm seu território invadido por projetos públicos, motivo pelo qual seus moradores se mobilizam através de manifestos para ter suas áreas preservadas.
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