sexta-feira, 16 de março de 2012

Renúncia vazia

Silvia Vinhas
BandSports
A renúncia de Ricardo Teixeira do cargo máximo do futebol surpreendeu a todos. Mesmo os mais próximos acreditavam no afastamento temporário para “baixar a poeira” e depois a volta triunfal. Quem ousaria pensar que após 23 anos, ele deixaria nas mãos de outro a glória de sediar a Copa de 2014? Meu maior contato com Ricardo Teixeira aconteceu recentemente na África do Sul. Lembro que antes de cumprimentá-lo, confesso que o observei de longe por um tempo. Jantando em um badalado restaurante em Joanesburgo, estava com a esposa e filha, comemorando o Dia dos Namorados como um reles mortal. Em mesas próximas Michel Platini, em outra Joseph Blatter com filha e netos. Em momento família, Teixeira nada lembrava o homem respeitado e polêmico, temido e adorado, contestado e admirado, que comandou com mãos de ferro a Confederação Brasileira de Futebol. Mãos que afagavam e batiam nem sempre na mesma proporção. Desafiando a soberania, era inabalável nos conceitos e incontestável nas atitudes. Aclamado por Lula e desafiado por Dilma, viu seu reino ruir aos poucos, afogado em denúncias que insistiam em aparecer. Por conta de vários desafetos durante o exercício do poder, criou mais inimigos que amigos e com seu jeito distante, parecia de verdade, não se importar muito com isso. Ledo engano. A personalidade mais introspectiva afeta o corpo de uma forma silenciosa e devastadora. Com a saúde abalada e fortes dores abdominais sofre hoje com uma diverticulite, doença que matou Tancredo e depôs Fidel Castro após 50 anos de poder. Sem clima para continuar e sob forte pressão, voou em busca de sossego, na paradisíaca Miami, como se isso fosse possível. Muitas vezes temos a falsa ilusão de que quando nos afastamos do problema, encontramos a solução. O real é a busca de novos valores para suportar as perdas. Fico imaginando, como vive um homem acostumado há tantos anos no poder? Como encarar a simples rotina de ler o jornal ou caminhar pela praia enquanto o Brasil se movimenta com contratos sendo fechados, estádios sendo construídos e milhões de brasileiros sonhando em resgatar o brilho perdido em 1950, na final contra Uruguai em pleno Maracanã? Ricardo Teixeira com certeza gostaria de um final diferente, sair pela porta da frente, ser reconhecido e aclamado, quem sabe com um título... só mais um... Mas a história insiste em dar sua própria versão. Não somos donos da nossa jornada.

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