O cenário bucólico em uma das áreas mais nobres da Capital, o Morumbi, é quebrado assim que se vê o córrego Caxingui tomado por um caldo branco e espesso, poluição causada pelo despejo in natura de esgoto não tratado. Dali, toda sujeira segue para o Rio Pinheiros, que carrega tudo para o já castigado Rio Tietê. Outra parte da água suja com todo tipo de destroços e metais pesados vai direto para as represas Billings e Guarapiranga, que abastecem a Capital (água que sai das nossas torneiras).
No bairro nobre, 571 imóveis têm ligação clandestina, segundo a Sabesp. Além do Morumbi, há 277 ligações clandestinas na Vila Mariana (Zona Sul), 200 nos Jardins e 27 em Pinheiros (Zona Oeste). Em vez de cair na rede da companhia com destino a estações de tratamento, a água poluída corre por um “atalho” até o córrego mais próximo.
De acordo com a Sabesp, mansões e comércios estão entre os poluidores. A multa para os donos pode chegar a R$ 1.500. São proprietários que desrespeitam a lei que torna obrigatória a conexão da casa com a rede coletora pública. Um motel da Rodovia Raposo Tavares, por exemplo, foi fechado após acumular R$ 35 mil em multas por despejar esgoto no rio.
Água imprópria para consumo
Neste ano, pelo segundo verão consecutivo, o Guarujá passou por um surto de diarréia. Houve ao menos 960 casos até os primeiros dias de janeiro. A água distribuída na maior parte do Guarujá a partir do fim de dezembro estava imprópria para consumo, segundo laudos elaborados pelo Instituto Adolfo Lutz, a pedido da prefeitura da cidade.
A causa mais comum da baixa qualidade da água foi a concentração de coliformes fecais – bactérias presentes nas fezes humanas e de animais – 29 pontos. De acordo com o padrão de testes, a presença de coliformes na água deve ser zero.
A Sabesp afirma que apesar da comprovação dos testes pelo Adolfo Lutz, as análises feitas pela companhia não apontam problemas.
Sabesp não fiscaliza
Mas se isto está ocorrendo, é por pura negligência e falta de fiscalização da própria Sabesp. Se no Morumbi tem 571 ligações clandestinas, imagine em todo o Estado, onde usinas de tratamento de água são raras. Um exemplo disto é a cidade de Embu das Artes, que não conta com sistema de tratamento adequado e, por isso, o esgoto das casas vai direto para o
Rio, como o córrego Embu Mirim. A Sabesp cobra, mas não cumpre com o seu dever.
No caminho legal do sistema de tratamento, o esgoto sai do imóvel e cai na rede da Sabesp, em seguida segue por uma tubulação chamada coletor-tronco e, por fim, cai num emissário (espécie de túnel de esgoto). Dali vai direto para a estação de tratamento. Mas não é o que ocorre.
“O Morumbi é uma terra de pecados nesse aspecto”, diz Jorge Eduardo de Souza, presidente da Samovis (Sociedade Amigos do Morumbi e Vila Suzana), “Condomínios despejam esgoto no rio. Há uma total falta de consciência e é preciso maior fiscalização”, ressalta.
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